À João [Benedito] Viana dos Santos
Nas ruas e praças desta cidade
Cantadores e violeiros de repente
Em sua simplicidade
Declamaram em voz corrente.
Um negro alto e valente
Cheio de lorota e fogosidade
Analfabeto e discrente
Da sua triste realidade:
Vejo a minha mocidade
Comparo o tempo presente
Que grande desigualdade
Que saudade a gente sente.
Ontem fui fogo ardente
Com o vigor da mocidade
Hoje o velho doente
Não encanta mais a sociedade.
Na sua fragilidade
Dominava o impulso da mente
E com tal sagacidade
Deixava a todos contente.
João Viana – de nascente,
João Benedito, de batisdade
Surgiu como o sol poente
Que se enche de luminosidade.
Um precursor indolente
Passou com a velocidade
E outros a sua historicidade
Trouxeram incansavelmente.
Não posso almejar felicidade
Ah! esse mundo está muito diferente
Amparai-me por bondade
Pois o tempo me é conveniente.
Sigo feliz e contente
Ouvindo da juventude a maldade
Vou rimando e fazendo repente
Enquanto não vem a mortandade.
Pois se há duas ambigüidades
- homem e tempo, seu contingente –
Muito mais há fatalidades
Em se viver eternamente.
Enfim não deixou parente
Apesar da sua longevidade
Nem tão pouco descendente
Que lhe desse continuidade.
As regalias sem irmandade
Delas querer gozar somente.
É a mais pura ingenuidade
Pensa o homem erroneamente.
De mãos vazias vem o decadente
E em toda a sua vaidade
Esquece o homem simplesmente
E vazio parte na igualdade.
Viveu portanto à marginalidade
Do seu tempo tão presente
Ganhou em si notoriedade
Dos cantadores e do repente.
A filosofia e a moralidade
Desta figura vivente
Encerramos na verdade
Que este livro lhe consente.
Rau Ferreira
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