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domingo, 11 de dezembro de 2011

O PAPEL DA MULHER NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO


O PAPEL DA MULHER NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO

Marilda Coelho da Silva[1]

RESUMO

Este artigo propõe analisar o papel da mulher na história do Cristianismo; enfoca quais as imagens da mesma são projetadas pelo discurso da Igreja a luz da Bíblia Sagrada e as consequências morais e sociais que delas podem ser apresentadas. A participação da mulher na história do Cristianismo é um fato inquestionável. No entanto, como na sociedade civil, a mulher herdou o estereótipo de ser destinada unicamente “à procriação e aos trabalhos domésticos”. Com isso, sua participação na vida eclesial, por muito tempo, foi negada, apesar de que, a visão feminina do Novo Testamento sempre existiu, mas o estudo sistematizado com vistas às revisões do papel da mulher na história do Cristianismo é mais recente. Se analisarmos corretamente os textos bíblicos em relação às mulheres, veremos que o Cristianismo dá à mulher o respeito e o lugar de destaque que ela merece. Resgatar a atuação de agentes femininos nos traz a possibilidade de compreender mais ainda a história de homens e mulheres que atuaram em um movimento fecundo, como a história do Cristianismo.
Palavras - chave: Mulher. Participação. Cristianismo.

ABSTRACT
This article proposes to analyse the role of women in the history of Christianity; focuses on which images are projected by the discourse of the Church the light of the Holy Bible and the moral and social consequences which may be submitted. The participation of women in the history of Christianity is an unquestionable fact. However, as in civil society, the woman inherited the stereotype of being designed solely "to the procreation and the housework". With this, its participation in ecclesial life, for a long time, was denied, though, the feminine vision of the New Testament has always existed, but the study systematized with views to the revisions of the role of women in the history of Christianity is more recent. If we analyze correctly the biblical texts in relation to women, we see that Christianity gives the woman the respect and the prominent place that it deserves. Rescue the female agents acting brings us the possibility to understand the history of men and women who acted in a move fruitful, as the history of Christianity.
Keywords: Woman. Participation. Christianity
INTRODUÇÃO


            Este artigo analisa o papel da mulher na História do Cristianismo, para tanto, tomou-se como texto base para análise documental a Bíblia Sagrada[2]. Na Bíblia pode-se observar que muitas mensagens de Cristo, incluem a mulher em seu ministério terreno. Embora esteja claro na palavra que Deus não formou a mulher para ocupar cargos de liderança, ou posição de autoridade sobre o homem, também está claro que a mulher foi firmada como uma companheira idônea e sábia, aquela que está diante do marido para assisti-lo e completá-lo, dando-lhe condições de tomar decisões sábias.
            Quando se discute sobre o papel da mulher na história do Cristianismo, especialmente a luz do Velho Testamento, o debate se torna polêmico. Muitos consideram a bíblia como um livro, cujo conteúdo é machista. Segundo esta linha de pensamentos a mulher é colocada à margem de tudo no relato bíblico. Todavia, o que se evidencia no contexto histórico da antiguidade, no qual se desenvolveu o relato do Velho Testamento, é o fator cultural daquela época onde os costumes e as práticas de vida determinavam o meio com sua vivência social. Portanto, a cultura de uma época influenciou a muitas gerações, e até o contexto atual, muitos ainda negam a participação da mulher na história do Cristianismo. 
 No decorrer da história do Cristianismo, observa-se que a mulher vem de muitas lutas e conquistas, a qual com o passar do tempo ganhou espaço e respeito e conquistou lugar no mundo pela sua capacidade de comover, administrar e sensibilizar a sociedade.
Analisando o relato bíblico é possível perceber que a mulher ganha espaço, como algo essencial na criação. Sem a presença da mesma, a criação seria incompleta e o homem estaria solitário e sem procriação. Dessa forma, a mulher é parte integrante da criação da história e da sociedade. Homem e mulher são dependentes um do outro para a perpetuação da raça humana. Neste sentido, a mulher exerce seu papel na história como instrumento de Deus agindo na dispensação da graça, ativa e direta no propósito de Deus.

A MULHER NA HISTÓRIA DO CRISTIANISMO


  Analisando a participação da mulher na história do Cristianismo[3], vamos inicialmente ao encontro das sociedades de cultura de coleta e caça, nas quais, segundo Muraro (1993), as mulheres tinham um papel central, em muitos casos vistas como sagradas graças a sua capacidade de poder dar a vida e ajudar na fertilidade da terra e dos animais. Nestas sociedades a força física não era uma necessidade. Desta forma, a mulher possuía um lugar central. Somente nas sociedades em que a coleta e a caça de pequenos animais se tornavam escassa instaura-se a supremacia masculina, visto que antes masculino e feminino governavam o mundo harmoniosamente. 
Quando se fala em desenvolvimento humano, seja nos aspectos econômicos, sociais e políticos, percebe-se que em qualquer situação, o cerne insurge e clama pelas mulheres. São elas que cuidam da educação, saúde, maternidade, pobreza ou riqueza. Em todos estes aspectos, as mulheres estão presentes, sofrendo as consequências ou promovendo soluções. A mulher coloca a serviço da humanidade seu potencial de reconciliação, sua presença solidária e afetiva, sensível e dinâmica, sua capacidade especial de amar, de perdoar e sempre retomar a vida com coragem e esperança. Neste contexto, na questão religiosa não é diferente: a mulher desempenhou e desempenha importante papel na história do Cristianismo.
            Apesar de tantas descobertas que se tem alcançado até hoje, origem da vida é um mistério no qual homem e mulher deve a sua vida. A inferioridade da mulher é algo deturpado e degenerado. No plano da criação homem e mulher são sócios no aspecto biológico sexual, social, moral e espiritual. A diferença estabelecida por Deus entre o homem e mulher, está na atribuição de responsabilidade. O homem possui uma hierarquia de compromissos. Neste sentido, é o homem que tem, principalmente, que responder a voz de Deus. Entretanto, a mulher também tem logo em seguida a mesma responsabilidade. Deus fala com a mulher e exige respostas (GÊNESES 3: 13).
            Na própria vida da Igreja, como demonstra a história, houve mulheres que tiveram um papel decisivo e desempenharam tarefas de valor considerável. Basta pensar-se nas fundadoras das grandes Famílias religiosas, como por exemplo, Santa Clara e Santa Teresa de Ávila. Esta última, depois, e Santa Catarina de Sena deixaram escritos tão ricos de doutrina espiritual, que o Santo Padre Paulo VI as inscreveu entre os Doutores da Igreja. E não se pode esquecer, ainda, o grande número de mulheres que se consagraram ao Senhor para prática das obras de caridade ou para o trabalho nas missões, e também o grande número daquelas que, como esposas cristãs, tiveram uma influência profunda na própria família e em particular no transmitir a fé aos seus filhos.
            Mata (2010, p. 116), lembra que no Cristianismo primitivo as mulheres tiveram uma participação relativamente ativa: “contavam-se mulheres entre os primeiros seguidores de Jesus. algumas, notadamente em Corinto, exerceram um papel de liderança. Ao que tudo indica, sua autoridade adveio da posse de dons carismáticos como a profecia e a glossolalia[4]”.
De acordo com Stanley (1998), a igreja tanto nomeou diaconisas como diáconos para atuarem no desenvolvimento de cerimônias cristãs religiosas. Essas mulheres ministravam a outras mulheres de várias maneiras, tal como o ensino de catecúmenas, ajudando no batismo feminino e acolhendo outras mulheres nos cultos da igreja; serviam também como mediadoras entre os membros da igreja e cuidavam das necessidades físicas, emocionais e espirituais dos encarcerados e dos perseguidos.

A arte cristã do primeiro e segundo século descreve mulheres desempenhando várias atividades espirituais – administrando a Ceia do Senhor, ensinando, batizando, cuidando das necessidades físicas da congregação e liderando as orações públicas (STANLEY, 1998, p. 42).

Encontram-se nos Evangelhos mulheres que brilharam na história de Jesus Cristo: profetizas, mártires, diaconisas,  virgens, renunciantes, monjas, enfim, grupos heterogêneos. Por exemplo, as duas figuras femininas que se destacam em relação a Jesus foram: Maria, mãe dele e, Maria Madalena, ambas tiveram destaque dentre tantas outras figuras femininas que alimentarão a piedade mariana, sustentarão o ideal de virgindade, e constituirão as imagens femininas para a futura iconografia cristã.
  Outra mulher de importante referência na Bíblia Sagrada foi Miriã, ela é citada na história do Cristianismo como profetisa, como aquela que liderou as mulheres israelitas em canções e danças de louvor. Com essa afirmação, pode-se percebe-se que Miriã desempenhou um papel de liderança entre as mulheres de Israel, colocando-a em destaque em relação ao papel exercido pelos homens daquela época: “a profetisa Miriã, irmã de Arão, tomou um tamborim, e todas as mulheres saíram atrás dela com tamborins e com danças” (ÊXODO 15: 20, 21).
Ainda sobre a posição de Miriã, como líder de Israel, essa é indiscutível. De fato, ela era tão proeminente que um profeta posterior, Miqueias, mencionou-a: “Eu os tirei do Egito, salvando-os da escravidão, e enviei Moisés, Arão e Miriã para os guiar pelo deserto”; “pois te fiz subir da terra do Egito, e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti a Moisés, Arão e Miriã  (MIQUEIAS 6: 4).
A expressão bíblica (GÊNESES 1: 24) que destaca: “e serão ambos uma só carne”. Disto isto, percebe-se que não há nenhuma afirmação ou ordem colocando o homem em posição superior a mulher na história da criação. Nesta ótica, no propósito de Deus não existe predominância masculina e nem subordinação feminina. Demonstra-se que não há inferioridade entre homem e mulher, há uma celebração de unidade e igualdade.
A Bíblia raramente se refere às mulheres cristãs sem falar sobre suas boas obras (1 TIMÓTEO, 2: 9-10; 5: 10). No Novo Testamento, encontra-se as quatro filhas de Felipe que “profetizavam”, isto é, falavam em público. Em Romanos (16. 7), nos deparamos com o nome de Júnia, com certeza uma mulher, entre os apóstolos. Também tinha Dorcas, que praticava ações contínuas de bondade e caridade (ATOS, 9: 36-39); uma Maria que "muito trabalhou por vós" (ROMANOS, 16: 6); as filhas de Filipe profetizaram (ATOS 21: 8,9) e Febe que servia à igreja de Cencréia e socorreu a muitos (ROMANOS, 16: 1-2). Lá se encontram exemplos de várias mulheres, como: Maria, irmã de Marta e de Lázaro, que ungiu o corpo de Jesus para seu sepultamento (MARCOS, 14: 3-9).

Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela. Mas Jesus disse: Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho será também contado o que ela fez para memória sua (MARCOS, 14: 3-9).


            No Novo Testamento as mulheres também serviam como professoras. Pode-se observar como um exemplo importante à referência a Priscila, em quatro das seis referências a esta mulher casada, Paulo e Lucas quebram a regra usual, mencionando Priscila antes do marido - um judeu por nome Áquila, natural do Ponto (ATOS 18: 18, 26; ROMANOS 16: 3; II TIMÓTEO, 4: 19).
            Percebe-se o papel de Priscila como professora, nitidamente, na narrativa da visita de Apolo a Éfeso. “Ele começou a falar ousadamente na sinagoga: mas quando Priscila e Áquila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus(ATOS 18: 18-28). O texto de Atos nos dar uma indicação clara do ensino feito com autoridade por uma mulher da Igreja.
            Pedro mostra que as mulheres devem dar mais importância ao caráter interior e menos à aparência externa (1 Pedro 3: 1-6). Tanto os homens quanto as mulheres devem ser o sal da terra e a luz do mundo (MATEUS, 5: 13-16). Enfim, mulheres e homens são iguais diante de Deus e ambos têm maneiras importantes pelas quais devem servir a Deus (GÁLATAS, 3: 28).
            Analisando a história de Débora é possível perceber uma aplicação importante da liderança. Débora foi a líder feminina mais proeminente dos primeiros tempos de Israel – ela serviu como a líder principal sobre o povo. É apresentada como uma juíza usada por Deus para libertar seu povo. A posição que ocupava combinou o trabalho de profeta e juíza. Os juízes funcionaram como o mais elevado tribunal de justiça de Israel (Deut. 17:8-13). No desempenho dessa função, Débora assumiu o papel de juiz nacional, quase da mesma forma como aconteceu com Moisés (ÊXODO, 18: 13).  
            Débora teve como papel primário o de profeta, que poderia ser parte da função de alguém chamado para liderar; contudo, um "líder" normalmente desempenha tal papel e muito mais. Por definição, um profeta é um porta-voz de Deus. Por via de contraste, um sacerdote traz orações, ofertas, sacrifícios e preocupações das pessoas a Deus.
            Nesse sentido, o papel principal de Débora era reunir as tropas e colocá-las na direção desejada por Deus. Ou seja, sua missão iguala-se à tarefa principal do pastor, nos dias de hoje. Os pastores têm de ter coragem para discernirem a palavra de Deus no contexto da igreja para a qual Deus chamou-os; além disso, devem reunir as pessoas, apontá-las na mesma direção e enviá-las com coragem e ousadia neste mundo agonizante, para levar Cristo a todos que, desesperadamente, precisam dele.
            Portanto, a participação de Débora, como profetisa e juíza, não era uma “pequena indústria” particular, praticada na sua casa, pelo contrário, não existem quaisquer dúvidas de que Débora era a líder/juíza reconhecida e nomeada pelos israelitas da época. Esse exemplo de Débora confirma que nem Deus nem os hebreus da Antiguidade consideravam a liderança feminina intrinsecamente inferior a masculina.
            Para Mata (2010), o catolicismo destaca com preeminência a participação da mulher em cerimônias religiosas.

A bem da verdade, o domínio masculino nunca é absoluto. O catolicismo popular se caracteriza, entre outras cosas, por uma certa preeminência feminina na práxis religiosa cotidiana. Em grupos de oração, na prática da reza do terço, na preparação e condução das cerimônias fúnebres, a mulher adquire recolhimentos da América portuguesa – marcados por essa impressionante corrente de espiritualidade que foi a devotio moderna -, a mística feminina adquiriu uma importância inegável. Há quem fale numa verdadeira feminização do misticismo ibérico ao longo do século XVI (p. 116-117).
           

O papel da mulher na história do Cristianismo é evidente desde o período que inicia a criação do mundo, como nos mostra a Bíblia (GÊNESIS, 3-16). Deus disse também à mulher: “multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dor teus filhos; teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio”.
            Na Encíclica da Dignidade da Mulher, o Papa João Paulo II escreveu sobre o papel fundamental das mulheres na história do Cristianismo. Ele ressalta que as religiosas católicas não fazem parte da hierarquia da Igreja, a qual possui três graus que são: “os bispos, os padres e os diáconos”. Consta nesta encíclica que há papéis femininos e masculinos na Igreja, uma divisão de tarefas. As mulheres religiosas são consagradas a Deus, a diferença entre os dois papéis está na função sacerdotal ministerial, que é destinada apenas aos homens. O papa também afirma que o paraíso não é destinado aos ministros, mas antes aos santos, homens ou mulheres[5]. Com isso, fica claro que a mulher não tem seu papel diminuído na visão do imemorável papa João Paulo II.
            Fiorenza (1992) também menciona as mulheres que seguiram Jesus e defende a ideia de que elas tiveram um papel relevante no movimento de Jesus. Para ela, esse movimento histórico possuiu uma alta significação para os primórdios do cristianismo, sendo responsáveis pela sua expansão.

Nas mensagens apostólicas paulinas, encontravam-se menção a várias mulheres. As referências às mulheres que apareceram na literatura paulina e pós-paulinas, indicam que foram patronas ricas do movimento missionário cristão e que ocuparam lugares elevados no trabalho de evangelização. Eram mulheres das comunidades cristãs da Galácia, de Jerusalém e de Antioquia (FIORENZA,1992, p. 193).

            A autora defende a ideia de que as mulheres foram instrumentos para continuar o movimento iniciado por Jesus e que lá estiveram envolvidas na expansão desse em direção aos gentios das regiões adjacentes.
                De acordo com Alexandre (1990, pp. 511-63) faz uma exposição sobre os discursos e as imagens das mulheres existentes nos textos fundadores da tradição cristã. Para a autora, o poder das mulheres, desde as origens até a vitória do Cristianismo deveu-se à sua fé e à facilidade de comunicação. “Mais facilmente libertas dos constrangimentos políticos e sociais, das tradições religiosas e culturais da cidade antiga, as mulheres pareciam estar adiante dos homens da sua família”. A sua influência doméstica contribuiu para a conversão dos seus parentes e desempenhou um papel essencial na transmissão da fé.
            Martinho Lutero em seu programa de Reforma aconselhou que os príncipes alemães organizassem escolas públicas para meninos e meninas. Nunca a educação formal de jovens garotas foi alvo de um programa sugerido por um líder religioso. Martin Bucer, reformador da cidade estado de Estrasburgo, elaborou um ousado plano eclesiástico em 1532, no qual estava prevista a ordenação de mulheres para o diaconato.
            João Calvino trocou correspondência com várias mulheres e, entre vários assuntos de natureza pastoral, até mesmo pontos teológicos foram debatidos. O mesmo Calvino escreveu na edição francesa de sua obra magna, as Institutas, datada de 1541, livro IV, capítulo XV, o seguinte pensamento: “E alguma vez vai chegar a hora em que seria melhor que a mulher falasse do que se calasse”[6].
            Para o reformador de Genebra, a restrição paulina encontrada em apenas um texto das Escrituras para a ordenação de mulheres ao oficialato não deveria ser vista como um dogma de fé, mas, sim, como uma convenção cultural de uma determinada época.
                Calvino influenciou inúmeras mulheres a desempenharem uma função prática de pastoras, mesmo que não fossem ordenadas para tal. É bastante interessante o relato da historiadora estadunidense Natalle Daves a respeito da participação feminina:

Algumas mulheres prisioneiras nas cadeias da França pregavam para grande consolo de ambos os ouvintes, homens e mulheres. O nosso jurista, ex-calvinista, Florimond de Raemond, deu vários exemplos, tanto de conventículos protestantes quanto de serviços reformados regulares - até o fim de 1572 - de mulheres que, enquanto esperavam a chegada de um pregador, subiam ao púlpito e liam a Bíblia. Uma teóloga até travou discussão pública com seu pastor. Finalmente, em algumas igrejas reformadas no sudoeste de Paris, numa área em que tecelões e mulheres tinham sido convertidos anteriormente, irrompeu um movimento para que leigos pregassem. Isto permitiria que ambos, mulheres e homens sem instrução, se levantassem na igreja e falassem sobre as coisas santas[7].

                Dentro da esfera calvinista, não pode-se nos esquecer do nome da rainha de Navarra, Jeane d´Albret. Sem fazer uso da violência ou perseguição religiosa, Jeane estabeleceu oficialmente a fé reformada na região de Bearn, organizando a igreja segundo os moldes genebrinos. Sua influência era sentida tanto em assuntos burocráticos, como nos aspectos teológicos.
Portanto, constatou-se também que Jesus teve a ousadia de incluir mulheres entre os seus seguidores, as quais o acompanhavam; algumas haviam sido curadas por ele (Lc. 8: 1-3). Tais mulheres seguiam-no por duas razões principais: primeiro, eram mulheres que foram curadas por Jesus, e em sinal de gratidão o seguiam para ajudá-lo em sua caminhada, pois eram mulheres ricas, como exemplo, temos Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes.
O segundo motivo destas mulheres seguirem Jesus, é que a situação da mulher naqueles tempos era de grande humilhação, inferioridade  e discriminação por parte dos homens, não havendo nenhuma consideração de igualdade entre marido e mulher, muito pelo contrário a mulher servia apenas para procriar.


CONSIDERAÇÕES FINAIS



            De acordo com a análise realizada, constatou-se que foram muitos os empecilhos para a mulher legitimar sua participação na história, em especial, no início do Cristianismo, desde os costumes, preconceitos, comportamentos e atitudes culturais, que dizem respeito à mulher e seu papel na sociedade, na família e na Igreja, que foram sacralizados, impedindo o surgimento de uma nova consciência. Porém, esses empecilhos foram vencidos e hoje já se pode discutir e destacar a importância do papel na história do Cristianismo.
E Jesus, como era contra todo tipo de discriminação e preconceito, defendia a igualdade da mulher em relação ao seu marido. Mais uma motivo de gratidão daquelas mulheres para seguir o Mestre e o ajudar em sua caminhada. Assim, O grupinho das discípulas de Jesus estava ligado a ele por laços de afeto e gratidão.
            É importante ressaltar que, a tradição cristã sempre manteve a igualdade espiritual entre mulheres e homens, inclusive na separação das funções e na não consideração das mulheres como seres socialmente inferiores, ideia que caracterizava algumas culturas antigas: as virtudes heroicas necessárias para a santidade de um ser humano são as mesmas para as mulheres e para os homens, embora eles realizem papéis diferentes. E o reconhecimento da dignidade humana e espiritual das mulheres sempre esteve presente no pensamento da Igreja sobre a família.
                Todavia, com o passar do tempo, principalmente dentro do cristianismo protestante, a mulher, mesmo no meio de uma cerrada cruzada fundamentalista, tem conquistado seu espaço. No Brasil, denominações irmãs como Exército da Salvação, Igreja do Evangelho Quadrangular, Episcopal Anglicana, Metodista do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana, Presbiteriana Unida e uma infinidade de comunidades de pentecostais livres ordenaram mulheres aos diferentes níveis de oficialato.
           
























REFERÊNCIAS


ALEXANDRE, M. Do Anúncio do Reino à Igreja - papéis, ministérios, poderes femininos. In PERROT, Michelle e DUBY, Georges. História das Mulheres no Ocidente. Trad. Maria Helena C. Coelho e Alberto Couto. Porto: Edições Afrontamento, 1990.

AQUINO, Ítalo de Souza. Como escrever Artigos Científicos – sem arrodeio e sem medo da ABNT. João Pessoa: Editora Universitária (UFPB), 2007.

BÍBLIA Sagrada. 9ª ed. Ave Maria, 1966.

BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. São Paulo: Loyola, 1989.

FIORENZA, E. S. As origens cristãs a partir da mulher: uma nova hermenêutica. Trad João Rezende Costa. São Paulo: Edições Paulinas, 1992.

MATA, Sérgio da. História e Religião. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

STANLEY, J. Grenz. Mulheres na Igreja. Ed. Candeia, 1998.


[1] Aluna especial da disciplina História das religiões e manifestações culturais no Brasil, do Programa de Pós-graduação em História da UFCG, ministrada pelo Profº. Dr. João Marcos Leitão dos Santos. marildagabriela@yahoo.com.br.
[2] BÍBLIA Sagrada. 9ª ed. Ave Maria, 1966.

[3] A religião cristã surgiu na região da atual Palestina no século I. Essa região estava sob domínio do Império Romano neste período. Criada por Jesus, espalhou-se rapidamente pelos mundo todo.
[4] Capacidade de falar línguas.
[5] http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo, Acesso em 09 de agosto de 2011.

Um comentário:

  1. Parabéns pela monografia. Há tempos esperava por novidades aqui neste espaço e agora compreendo que estavas laborando esta peça sem igual e de importantes conotações na história do cristianismo mundial.

    Att.

    Rau Ferreira
    Blog HE

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